quarta-feira, 31 de julho de 2013

Como um grupo de dança maranhense sobrevive por 28 anos?

 Esse é o melhor instante para que reveja meus conceitos pela luta que persiste desde o retorno para as terras maranhenses, em 1981.
 O curso técnico em dança, que se fala desde a fundação da Associação Maranhense de Dança não se concretizou. A lei de incentivo estadual sim, mas o próprio estado se utiliza dela para patrocinar seus eventos. Pergunta: as transformações não são urgentes?
 Não sei até onde chegam as contribuições individuais e coletivas do Grupo Teatrodança que produz e processa questões da condição humana, pisando forte nos acontecimentos nativos. O direito de se manifestar se faz porque não perdemos atenção no que acontece ao nosso redor.
 O Grupo Teatrodança, onde sou uma ativa até passar desta para outra, foi fundado em períodos de anistia, com a alma perturbada pela ditadura (acho que até hoje em se tratando de plagas maranhenses).  Foi passando pelas ações de consciência encenadas, impeachment de presidentes, redes digitais com corpos difusos, links dispersos com artistas da dança do sul maravilha que falavam em contaminação, que até então, eu pensava ser apenas catapora e sarampo...
 Sofro de inquietude e insatisfação tônica. No trabalho com a cena coreográfica, seja com artistas formados ou em formação, o pensamento é político. Não chamo de montagens para cada espetáculo. Chamo de processo e explico revendo alguns deles. Sagração Coureira, neste século da própria Sagração do Igor Stravinsky se construiu com capoeiristas e dançarinos do tambor de crioula, não se falando pela minoria pois não pertenço a ela e não conheço o tamanho da dor dela, como bem diz o escritor Raduan Nassar. Espirais e Alma Nova assumem nossa condição mestiça, imperativo de autenticidade, árduo caminho da modernidade ética e econômica. Bicho Solto Buriti Bravo, O Cerro do Jarau e O Baile das Lavandeiras são composições com textos dotados de uma teatralidade especial cujos personagens encaram o universo infantil como inteligente e imaginativo, homenageando meu aprendizado com Ilo Krugli e seu Teatro Vento Forte.
 Atualmente as conexões espirituais das artes orientais se aliam na batalha pela violência contra o feminino que deveria ser cultivado e sagrado. Nossas meninas somem, nossas mulheres gritam, nossas velhas esconjuram. Assim vai indo a trilogia que já inclui Meninilha e Ilhadas. Pelas minhas reflexões torço para que o terceiro processo não se intitule mortas.
Quando alguém faz aniversário é visitado. Mas escolhi inverter a ordem. Estamos visitando alguns ambientes e seres que fazem parte da trajetória do Grupo. Com um presente que se chama Flores nesta primavera que dizem não ser tão sangrenta. Para mudar o adjetivo venha conhecer a fundo o Maranhão. Quem sabe se una aos incomodados corpos locais?
Júlia Emília                                  

Um comentário:

  1. Ótimo texto Julia, fez-me surgir lembranças no processo "Alma Nova". Estou sempre procurando no meu eu, formas de mesmo ausente, manter-me entrelaçado ao grupo, seja lendo e/ou acompanhando o grupo como um mero espectador, ou até mesmo com forças de pensamentos-intuitivos que este grupo sempre irá conseguir se firmar no seu próprio assoalho, apesar da andança ser dolorosa e cansativa. Um abraço a todos.

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